terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Entrevista com @harpeus | #LiteraturaGratuita

Já pensou que incrível um projeto que resgate clássicos esquecidos da Literatura? Bom, o Olivier Viteli não só pensou, como também colocou em prática: o Projeto Literatura Gratuita está apenas em seu começo, mas promete muito! Pensando nisso, realizei uma pequena entrevista com ele, e gostaria de dividir com vocês um pouco mais sobre essa iniciativa maravilhosa.

1. O que é e como funciona o projeto?

O projeto é uma necessidade que sempre senti e nunca soube como resolver. O acesso à literatura de forma ampla, acessível e coerente. É absurdo que o incentivo e o cuidado do Governo Brasileiro se restrinja a um site de domínio público com obras mal acabadas e que, para que alguém consiga ler uma obra de Machado de Assis de forma confortável, precise garimpar na internet ou pagar 20/30 reais pela versão digital.

O próprio cuidado pela obra quando impressa, para mim, deixa a desejar.

Se o autor não estiver na boca do povo, como George Orwell agora em 2021 por entrar em domínio público, nem mesmo é cogitado. É apagado, esquecido. Uma obra incrível como “Dicionário do Diabo” de Ambrose Bierce passou anos sem uma versão impressa por ter sido posta na geladeira. Se não fosse a @Carambaia em 2017 e que só peca por não projetar suas obras em versão digital.


2. O que te inspirou a colocá-lo em prática?

A minha raiva. Em 2020 eu estava lendo como nunca li. Minha paixão por sebos e livrarias acabou por se tornar uma paixão tangível pela leitura digital. Pesquisa as versões dos livros, sua história e como eu poderia dar um background para leitura que fazia. Minha raiva ia aumentando à medida que precisava garimpar os títulos que me chamavam atenção mas possuíam versões mal traduzidas, pouco acabadas e, MUITAS DAS VEZES, em um word com poucas intervenções. Isso me fez projetar

A Igreja do Diabo, de Machado de Assis, que não tinha versões muito bem diagramadas. Como designer, vi uma oportunidade de colocar meu conhecimento à prova e meu amor pelo que lia para o mundo. (uma extravagância discutível, porém aceitável)


3. Como é o processo de resgate dos livros?

Essa pergunta é muito interessante porque, como tudo que fazemos hoje, começa com uma pesquisa no Google. Eu conheço as obras que desejo ver no mundo, mas não tenho certeza se elas foram contempladas pelo mercado editorial brasileiro. Com uma pesquisa rápida sou capaz de descobrir quando a última versão foi feita (se foi feita) e se é fácil conseguir ler a obra nos dias de hoje.

As respostas costumam variar bem pouco. As editoras no Brasil não medem esforços para manter um padrão. Lucro, Lucro, Lucro. As obras que trago tem um apelo um pouco diferente, visto que ganho pela quantidade de pessoas que a leem. (ganho a felicidade de ter feito alguém como Lima Barreto, por exemplo, ser admirado mais uma vez)

Com a pesquisa feita, o feeling me leva. Garimpo versões construídas em outras línguas, ilustrações coerentes com o projeto, qual tradução (se houver), faz sentido. Também faço a correção ortográfica e notas de rodapé caso a obra peça esse tipo de intervenção.

As imagens são tratadas, a capa é feita e o livro começa a ganhar vida. De resto é trabalho de design editorial purinho, com a diagramação e programação do .EPUB tomam a maior parte do tempo.


4. Quais os seus planos para o futuro do projeto? Onde pretende chegar com ele?

Quanto às obras, a única certeza que tenho é que quero MUITO trazer mais mulheres para serem lidas no projeto. Talvez, pela pouca idade e falta de leituras femininas, tenho muita dificuldade de garimpar suas obras e versões anteriores. Duas autoras eu já posso dar certeza de que entrarão, Florbela Espanca e Délia.

Além delas, já tenho duas obras engatilhadas. “O Hyssope” do Antonio Diniz da Cruz e Souza e “O Que é Arte” do Tolstoi.

Quanto ao projeto em si, espero esse ano conseguir alcançar o maior número de pessoas possíveis e, talvez assim, aqueles que não descobriram o que amam ler, encontrem uma história para amar.


5. Como apoiar o projeto?

Hoje o projeto sai totalmente do meu bolso e não mantenho o costume de pedir doação para manter o mesmo mas, caso tenham de fato interesse em apoiar o projeto, indiquem as leituras, baixem os livros, enviem os mesmos para amigos que não gostam tanto assim de ler. 

Não é sobre esse projeto, não é sobre mim. É sobre o autor que merece ser lido, sobre a obra que não merece ser esquecida.

Compartilhem o projeto com quem puderem, como puderem. 

E leiam, leiam muito. É de vocês.


Se você, assim como eu, achou esse projeto incrível, confira mais informações a respeito:

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